Blog Viewnet

O Facebook anunciou na quinta-feira (15) em seu site oficial que passará a combater ativamente notícias falsas. Usuários poderão denunciar conteúdo que julgam duvidoso. Quando se verificar que as informações não procedem, um aviso aparecerá junto ao link falso, que também receberá menos exposição no feed de notícias.
 
Trata-se da medida mais drástica anunciada pela rede social contra a difusão de boatos, e uma resposta a críticas que se intensificaram em novembro, após o republicano Donald Trump ser eleito presidente dos Estados Unidos.
 
Importantes veículos acusaram a rede social de facilitar a difusão de informações falsas que teriam influenciado o resultado das eleições.
 
Com o novo sistema antiboatos, adotado pouco mais de um mês após Trump ser eleito presidente, o Facebook reconhece a necessidade de ter um papel ativo na curadoria do tipo de informação que divulga.
 
O anúncio da medida ocorre três dias após a empresa divulgar a abertura de uma vaga para um jornalista com pelo menos 20 anos de experiência. Ele terá a função de supervisionar as relações da empresa com a mídia tradicional.
 
A medida contrasta com o posicionamento da empresa imediatamente após as eleições. Em novembro, Mark Zuckerberg, presidente e principal acionista do Facebook, afirmou que: “pessoalmente, eu acho que a ideia de que notícias falsas do Facebook, que são uma parcela muito pequena do conteúdo, influenciaram a eleição de qualquer maneira, é uma ideia bastante maluca. Os eleitores tomam decisões baseados na experiência que viveram”.
 
A crise pós eleições não foi a primeira grande discussão de 2016 a respeito da forma como o Facebook gere as informações que divulga.
 
Em maio, o site especializado em tecnologia Gizmodo revelou que a sessão de notícias em destaque era gerida por uma equipe de curadores, e não por algoritmos, como se imaginava. A empresa foi criticada pela falta de transparência.
 
Ironicamente, o temor levantado naquele momento foi de que o Facebook estaria favorecendo a candidata Hillary Clinton, e não Trump, que posteriormente passou a ser considerado o grande beneficiário da rede social. Como resposta, a companhia demitiu sua equipe de curadores, e passou a gerir o conteúdo com algoritmos.
 
O resultado foi criticado pelo jornal britânico “The Guardian”. No final de semana seguinte à alteração estiveram entre os destaques uma história falsa sobre a apresentadora Megyn Kelly, da rede de TV Fox News e um artigo sobre um vídeo de um homem que se masturbava com um sanduíche de frango da rede de fast food McDonald’s. Aquele caso também serviu de argumento contra o uso de algoritmos para tomar decisões editoriais.
 
O novo sistema contra boatos funciona da seguinte maneira:
 
AS MEDIDAS ADOTADAS PELO FACEBOOK
 
Clicando em um botão presente no lado superior direito da postagem, o usuário denuncia uma notícia que avaliar como falsa. A empresa usa essas denúncias, assim como outros sinais - ela não deixa claro quais - para triar links suspeitos.
 
Esses links são enviados para organizações parceiras que trabalham como checadoras de fatos e são signatárias do Código de Princípios de Checagem de Dados Poynter. Ele foi criado pelo Instituto Poynter, uma instituição americana fundada na década de 70 com o objetivo de promover boas práticas jornalísticas pelo mundo. Parcerias já foram anunciadas com os serviços FactCheck, Snopes, PolitiFact e as divisões de checagem da rede americana de televisão ABC e da agência de notícias Associated Press. No futuro, serviços que fazem parte da Rede Internacional de Checadores serão inclusos na parceria, entre eles os brasileiros Agência Lupa, Truco e Aos Fatos. Em novembro de 2016, a rede havia se disposto a realizar uma parceria com o Facebook nesse sentido.
 
Se a informação for identificada como falsa ela não será excluída da rede social, mas será sinalizada como pouco confiável. Haverá um link levando a um artigo que explica por que o conteúdo é questionado. Essas histórias também poderão perder relevância no feed de notícias. Ou seja, podem vir a aparecer com menos frequência para usuários. Também será impossível promover a notícia, ou seja, pagar ao Facebook para que a faça aparecer mais.
 
Se mesmo assim o usuário quiser compartilhar o link haverá um alerta de que o conteúdo é questionável. Ele dirá “antes que você compartilhe esta notícia, talvez queira saber que checadores independentes refutam a sua precisão”.
 
Por que o Facebook é criticado
Veículos como “Fortune”, Vox, BBC, “New York Magazine”, The Intercept e Mashable apontam o Facebook como um dos principais culpados pela difusão de informações falsas que teriam ajudado na eleição de Donald Trump.
 
Entre os boatos estão a informação de que o Papa Francisco apoiava a candidatura de Trump e de que o casal Clinton estava por trás de uma rede de pedofilia.
 
Segundo reportagem do site Buzzfeed, apenas um grupo de jovens da Macedônia criou mais de 140 sites pró-Trump, cujo conteúdo falso era compartilhado massivamente no Facebook.
 
A questão também afeta o Brasil. O Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas de Acesso à Informação da USP investigou o desempenho de 8.290 reportagens, publicadas por 117 jornais, revistas, sites e blogs noticiosos ao longo da semana anterior à abertura do processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff, em abril de 2016.
 
O resultado da análise, intitulado “Quando as Notícias mais Compartilhadas são Falsas: a Circulação de Boatos durante a Semana do Impeachment no Facebook”, foi divulgado em setembro de 2016 no Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.
 
Três das cinco notícias mais divulgadas naquela semana eram falsas. Entre elas estava uma intitulada “Presidente regional do PDT ordena que militância pró-Dilma vá armada no domingo: Atirar para matar, do site Diário do Brasil, que teve 65.737 compartilhamentos.
 
Para os veículos de mídia, o Facebook também tem caráter noticioso, e deveria se responsabilizar pelo conteúdo que ajuda a promover.
 
A ideia contraria o posicionamento oficial da companhia, que se apresenta como uma empresa de tecnologia e uma plataforma “neutra”.
 
Como são algoritmos que determinam a relevância do conteúdo - e esses algoritmos são alimentados pelas preferências, amigos e “likes” (ou curtidas) dos usuários - a rede social se  isentava de assumir a responsabilidade editorial até a divulgação da nova medida.
 
Em entrevista ao programa “60 Minutes”, o próprio Trump reconheceu, no entanto, que as redes sociais tiveram um papel em sua eleição - apesar de não ter afirmado que notícias falsas foram relevantes para o resultado.
 
Segundo ele, Facebook, Instagram e Twitter combinados o ajudaram a alcançar uma audiência de 28 milhões de pessoas. Só nos EUA, o Facebook tem 156 milhões de usuários. E estima-se que 62% dos americanos consumam notícias por meio das redes sociais.
 
Críticas à medida
Veículos conservadores temem que o alerta antiboatos seja usado para minar os links de veículos à direita.
 
Isso ocorre porque a empresa é encarada como liberal. Zuckerberg já usou sua rede para apoiar o casamento gay, por exemplo. E mostrou antipatia em relação a políticas anti-imigração defendidas pelo presidente eleito dos Estados Unidos Donald Trump, antes de este ter sido escolhido como candidato pelo Partido Republicano .
 
Em entrevista com o jornalista Tim Lee, do site americano de notícias Vox, que declarou apoio à candidatura de Hillary Clinton, o apresentador Tucker Carlson, do canal de notícias de inclinação conservadora, Fox News, criticou que funcionários do Facebook tomem decisões “completamente subjetivas sobre o que é legítimo e o que é ilegítimo, o que deve ser compartilhado ou não”.
 
Fonte: Nexo Jornal

Deixe seu comentário

Topo